sexta-feira, 19 de abril de 2013

Do outro lado do mar: 5 - Para contar aos netos!

Depois de uma época em que coisas não nos tinham corrido de feição, a verdade é que chegámos à última jornada com hipóteses matemáticas de chegar à Europa. Hipóteses complicadas, convenhamos. Estávamos em 7º lugar e tínhamos que obrigatoriamente ganhar em Guimarães e os preto-e-brancos não podiam ganhar ao Braga, no campo do nevoeiro. Só a primeira premissa era difícil, até porque não sendo impossível, a verdade é que a equipa não tinha revelado bases sólidas de poder fazer uma verdadeira surpresa.

No entanto, há coisas que não se explicam e não acredito que um só maritimista não acreditasse na hipótese. E enquanto há hipótese, temos de lutar. Sempre foi assim e desta vez não seria diferente.
Este jogo aconteceu numa altura em que os estudantes andam mais atarefados (não, não é a altura de exames. Como toda a gente sabe, trata-se da altura da Queima das Fitas, o que arrastou imensa gente para Coimbra). Por outro lado, não estava prevista a vinda de nenhuma das claques.

Nada que meta medo: combinei com o grupo do costume – embora com algumas ausências (motivo estudantil) e fomos de carro rumo a Guimarães, com paragem em Aveiro para dar boleia a mais um dos nossos. E assim foi: de Lisboa a Guimarães, com paragem na “Veneza portuguesa”. Ambiente (como sempre) bem disposto e pelo caminho confirmámos que teríamos direito a bilhete para ver o jogo. Bastou uma paragem em Gaia, para levantar os convites no hotel onde o Marítimo estava hospedado. Fomos recebidos por alguns elementos da  Direcção que com alguma admiração – e simpatia – nos deram os ingressos.

Chegados a Guimarães (com uma volta turística à cidade até encontrar o estádio – eu nestas coisas gosto de complicar e nunca encontro o caminho à primeira), lá fomos cumprir o ritual da praxe:  Jogo que é jogo, é precedido de umas belas  jolas. Ficámos sentados numa esplanada e pudemos ver o que antecede um jogo do Guimarães: Famílias inteiras a caminharem rumo ao estádio. Toda a gente vai devidamente “equipada”: cachecol, camisola, casaco… o merchadising do Guimarães funciona e mais importante do que isso, as pessoas sentem, de facto, o clube.

Como tínhamos chegado cedo, decidimos ir ver a entrada dos autocarros. Pois… nós e uns 2000 adeptos do Vitória. Encontrámos 2 elementos do Esquadrão Maritimista. Logo aí começámos a provar algumas provocações vitorianas, mas dentro do aceitável. Aí, fica-me na memória uma resposta do Francisco Nóbrega a um tipo do Guimarães que gozava com a nossa presença escassa (em número). Responde-lhe que éramos uns 500, mas estávamos espalhados. Não contente, acrescenta qualquer coisa como “Vocês agora são muitos, mas eu sou do tempo em que vocês lutavam para não descer e andavam caladinhos”. O outro tipo balbuciou qualquer coisa “Hoje levam pelo menos quatro”, ao que o Francisco contra-respondeu “sim, sim, e só na primeira parte”.
Picardias à parte, coisas normais na bola – quando não passadas para outro extremo - o ambiente estava muito, mas mesmo muito favorável ao Guimarães: mais de 20 mil a puxar para os da casa e quanto aos nossos… bem, os nossos… éramos uns 10 (o pessoal que foi de carro comigo, os dois do Esquadrão e mais uns quantos que tinham vindo do Porto).

E assim chegámos ao interior do estádio: Um segmento da bancada só para nós, perfeitamente isolados (o que eu até prefiro). A polícia avisou-nos logo de início que não seria boa ideia ficarmos por baixo do segundo anel, porque aquilo costumava ferver. Lá agradecemos  o conselho e começámos – finalmente – fazer o que mais gostamos: Gritar e puxar pelo nosso Marítimo.

Quanto ao jogo, já todos sabíamos que ia ser difícil, mas o facto é que estávamos a jogar bem, sem dar grandes espaços e foi uma sensação de meio murro no estômago quando o Valdomiro marcou o primeiro golo da partida. A nossa equipa não se atemorizou e aos poucos foi ganhando cada vez mais confiança. As nossas vozes pareciam começar a ouvir-se no meio daqueles mais de 20 mil e mesmo a acabar a primeira parte marcámos o golo do empate, com o Kléber a não perdoar. Mas que belo tónico, o golo na melhor altura. Acho que nessa altura aquela que era apenas uma hipótese começa a ser, de facto, uma realidade cada vez maior dentro de cada um de nós.

Eis que mais uma vez o Franciso Nóbrega tem mais uma das dele. No meio do intervalo, mete a mão no bolso e diz-me “Agora é que vai ser” e espalha uma data de alecrim pelas bancadas abaixo. Parvoíce ou não, mas pensei comigo mesmo “se tem alecrim, é para ganhar”.

Se foi do alecrim ou não, a verdade é que a segunda parte não meteu medo a ninguém em termos de oportunidades do Guimarães, mas o facto é que o tempo ia passando… rápido demais, diga-se de passagem… Epá, só um golo, pensava eu… É só mesmo um golinho! Parecia que o estômago ia dando de si com a ansiedade a dizer “presente”.  As emoções ainda estavam a começar…

Aos 87 minutos Cherrad assiste Kléber na perfeição e… GGGOOOLLLOOOO. Não consigo expressar por palavras o que senti naquele momento. 20 mil cabeçudos em silêncio e aqueles 10 tipos na bancada atrás da baliza onde nos tinham enfiado em êxtase, a gritar golo a plenos pulmões. É daquelas sensações que não têm preço!

Mas o jogo prosseguia e o impensável acontece: Peçanha é expulso já nos descontos... enorme confusão, até porque a acção passava-se na baliza no extremo oposto. Deu-nos a sensação que seria penalti… mãos na cabeça… sensação de quase vómito…acho que ia-me dando uma taquicardia, um AVC… sei lá. Olho para o Filipe Vasconcelos  e o tipo já estava de costas voltadas, a andar de um lado para o outro, o Pestana quase branco…  Afinal não era penalti, mas já não tínhamos mais substituições a fazer. Paulo Jorge na baliza!  Entretanto, oiço que o nacional estava a ganhar – o que finalmente não se veio a concretizar – o problema é que as pulsações aumentaram para mas 200 por minuto. Entretanto, ataque do Vitória e o Paulo Jorge sai-se com segurança (para mim um dos heróis do jogo)… Tudo isto passou-se em 3 ou 4 minutos, mas pareceram horas intermináveis.

Finalmente o jogo acaba. O impensável aconteceu: Ganhámos em Guimarães, o Braga foi empatar na Choupana e a UEFA era mais uma vez nossa!! Corremos que nem loucos para a vedação e os jogadores vieram todos ter connosco. Fizeram a festa ali ao pé de nós, ofereceram camisolas, mas bem maisimportante do que isso foi a sensação de vitória e conquista mesmo contra todasas probabilidades.

Depois do jogo, provámos o mau perder das gentes de Guimarães… Cadeiras a voar, ameaças disto e daquilo. A azia tem destas coisas, mas lá fomos para o carro em segurança (escoltados pela Brigada Criminal da PSP) e seguimos o conselho: cachecóis só fora da cidade! Achei exagerado, mas verdade é que ainda vimos uns quantos tipos a vaguear pelas ruas com uns paus. Chegados à primeira estação de serviço que encontrámos, saímos do carro e fizemos a festa. E assim foi até chegarmos a casa.  

Por estas é que sou do Marítimo: que sensação aquela que os sortudos que foram a Guimarães puderam experimentar: éramos tão pequeninos no início do jogo e saímos de lá maiores do que um Gigante.
Sobre esta deslocação, vou contar aos meus netos!

Pedro Camacho

3 comentários:

  1. Foi com imensa pena que não pude estar presente neste jogo absolutamente épico. Valeu ter ido ao Algarve (jornada 27 dessa época), em pleno alerta vermelho, quando poucos acreditavam que nos poderíamos qualificar para as competições europeias. Parabéns pelo fantástico testemunho!

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    1. Também lá estive, em conjunto com o Pestana. Não há alerta que nos meta medo! ;)

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  2. Que pena tenho de não ter ido a este jogo. Já tinha o carro cheio mas o aniversário de um dos que também ia resultou numa longa noite e só acordamos à hora do jogo. Mas foi com muita inveja que vos vi pela televisão.

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