Depois de ter passado o ano a encher o saco do benfica –
tive a infelicidade de assistir in loco à derrota a contar para o campeonato,
na Luz, nos Barreiros, em Coimbra e há duas semanas novamente na Luz (estes
dois últimos acompanhado pelo meu filho, que embora tenha nascido em Lisboa, é
sócio e adepto do Marítimo. E é SÓ do Marítimo).
Pese embora a inauguração do estádio, a verdade é que pouco
mais do que a eterna certeza de que vamos ganhar (aquela que não denunciamos a
ninguém, mas que interiormente nos alimenta e nos faz sonhar). Os números dos
últimos desafios não podiam ser mais penalizadores para o nosso lado e as
exibições que vi em Arouca e em Chaves não me deixavam muito confortável.
Mas quem ama, sofre. Lá saí do trabalho, não sem antes
responder às provocações benfiquistas: “Então vão ser quantos desta vez?”…
Saí rapidamente do trabalho às 19h00 e segui para o metro,
seguindo-se o comboio. Raios partam a sorte, o comboio tinha de atrasar logo
hoje. Passo na churrasqueira (hoje ninguém faz jantar) e para cúmulo, o
elevador também estava de greve. Subo as escadas duas a duas (vivo num quarto
andar e atiro-me para o computador (sim, sou Inácio, confesso) e ainda oiço a
mulher gritar “parece que és doido” e nem respondo.
Está tudo ligado. O jogo vai começar. O frango que se lixe,
afinal está morto e pode esperar pelo intervalo. Eu já estou pronto. Digo ao
puto para ir vestir já o pijama, pois jantamos ao intervalo.
Está o miúdo ainda a enfiar a cabeça na camisola do pijama ,
estou eu já a berrar a plenos pulmões “GGGGGGGOOOOOOOOLLLLOOOOOOO”. Vem o miúdo
seminú a correr pela casa “A sério, pai? A sério?” E gritamos os dois GOLLOOOO.
Que bom, marcámos cedo e isto pode
afectar os gajos, pensei eu. Mas por outro lado, há demasiado tempo por jogar….
Porra, mas nunca estás contente, pergunto-me. Pois, parece que não. Bem, melhor
estar a ganhar do que nada. Vamos ver no que isto dá.
Já lado a lado com o miúdo (pijama entretanto vestido),vejo
o Bessa isolar-se para a baliza... Vai, vai, vai… porrraaaa, falhou, sobra para
o Ghaza, remaaaataa… Aiiiiii, sacana do guarda-redes… Epá, mas estamos a criar
perigo. Os gajos estão a abrir espaço.
Canto na direita, Raúl cabeceia Gooo--- mas não, porra.
Ganda azar…. Que merda, podíamos estar a ganhar por dois.
Contra-ataque, Xavier vai isolar-se, é agora, é agora… fora
de jogo??? Fora de jogo??? É sempre a mesma bosta, este era certinho. “Ó pai,
não estava, pois não?” Não filho, isto é sempre para o mesmo lado…
Do nada, remate com tabela no Gonçalo Guedes e bola no saco…
murro na parede (desculpa lá o estrondo, vizinho, mas aconteceu…). Mas que
nojo, mas que sorte. Não tinham feito nada e marcam assim?? E ainda oiço o
comentador dizer que foi um golo idêntico ao do Marítimo…
Intervalo. Bora lá matar o frango outra vez. Quase me
engasgo para ver a 2ª parte desde início. Mal acabo de me sentar, bola na
trave... ai jassuuss… que susto. Já passou. O puto entretanto chega (não domina
ainda a arte de engolir a comida sem mastigar). Ainda bem, assim poupou-se a
assistir à bola na trave. Mas conto-lhe o que aconteceu. O jogo passa por uma
fase morna, mas com os gajos a carregar. O tempo teima em não passar. Raio do
relógio que não anda. Aquela defesa do Gottardi ao cabeceamento do Rafa… o
miúdo põe as mão à cabeça e grita: “Tomaaaa, ganda defesa, devem pensar…!!”
Canto, Edgar marca para o meio e aparentemente com pouca
força. O plano da TV abre à medida que a bola se direcciona para a área e vejo
dois dos nossos no meio dos centrais benfiquistas. A bola passa, Maurício
acerta na bola e golo. GGGOOOLLLOOOOOO. Eu e o miúdo gritamos GOLO três vezes
seguidas, como se tivéssemos ensaiado uma coreografia, cerrando os punhos ao
mesmo tempo.
Depois, foi sofrer, o relógio que não andava. As pulsações a
acelerar. O meu filho às tantas já dizia que sentia as pernas tremer por causa
dos nervos. É bom que sintas isso, o sabor da vitória será melhor. E acabou.
Ganhámos. Sem espinhas.
Abraço-me ao puto, que assistiu ao meu lado muito desanimado
ao descalabro do jogo da Luz. Agora foi a nossa vez. Juntos.
Bora agora ao Restelo. Mas amanhã, vou de peito cheio para o
trabalho, Obrigado Maurício. Obrigado Marítimo.
0 comentários:
Enviar um comentário